27 de jul. de 2009

Silêncio – a cidade dorme

Silêncio – a cidade dorme
Jb.campos

São Paulo – Brasil

São Paulo, uma das maiores cidades do planeta – um mal necessário, pois, se não fosse nesse núcleo brasileiro com certeza seria em outras plagas, como é o caso de Tóquio, Cidade do México, Buenos Aires, New York etc...
Silêncio, todas elas dormem o sono da inocente ignorância humana.
Trabalho e mais trabalho, a luta é renhida no dia-a-dia das pessoas, e por este motivo escravocrata, é que a cidade no seu todo fica adormecida, posto que o tempo passa inconscientemente e seus habitantes não criam nada novo, a não ser máquinas e mais máquinas para frabricarem o poder e o dinheiro...
Estágio dos homens no planeta Terra, quem passa por aqui, vai aprendendo a se libertar da escravidão de um sistema atrasado ainda.
Uma loucura se faz presente nesta vida, as famílias, por muito unidas que sejam, ainda assim vivem se digladiando entre si.
O trabalho mesmificado é uma forma de condicionar a mente humana...
Deixam grandes espaços nos campos, para se acotovelarem nas grandes cidades, poluindo e destruindo o ecossistema, e os que ficam no campo, metem fogo nas matas, tudo em função do dinheiro e dos bens desta vida.
Os valores materiais insaciáveis, desassossegam o homem na corrido desenfreada da conquista de bens efêmeros (transitórios)...
Assim haveria de ser, aqui chegaram todas as raças e credos, juntamente com a benéfica revolução industrial e suas contradições.
Nós, que nela habitamos, passamos por um aprendizado muito enriquecedor, pois, tudo isto faz parte da nossa sobrevivência.
Não podemos descartar a má distribuição de rendas, fato corriqueiro no planeta.
Na atualidade, o desemprego é implacável, e vergonhoso ao doutor que sente orgulho do seu diploma ao se ver postado numa fila estática (parada) de desemprego, enquanto a cidade dorme.
O homem dorme, posto que não se vê no seu semelhante...
O egoísmo lhe traz uma lassidão mental, e ele dorme profundamente.
Ratificando este fato, são muitos altos executivos, experientes criaturas que viajaram o mundo inteiro, poliglotas, hoje falidos, esmolando um emprego, qual seja ele...
Vimos entrevistados na TV, hoje aposentados que ganhavam R$8.000,00, ganhando míseros R$400,00, esse revertério, dá um nó na cabeça daquele que envelheceu em sua idade provecta (experiente), e que se vê depreciado, em todos os sentidos de dignidade humana.
Particularmente, conheço alguns homens que ocuparam altos cargos executivos, e hoje estão na rua da amargura, literalmente morando debaixo de viadutos, nessas megalópoles adormecidas.
Assim, como tantos outros de menor aptidão profissional, perderam seus empregos e seus bens, e até o bem maior, a própria família, pois, a fome e a falta do dinheiro estimula a discórdia e as brigas, então, essas pessoas procuram a paz de espírito de maneira errada, através das drogas, entregando-se aos vícios etc...
Porém, vamos falar do Dr. “Hot Dog”:
Parece que mudamos nossa fala a uma brincadeira leviana, e você estará se perguntando:
- Quem seria esse doutor Cachorro Quente?
Bem, ele se chama Dr. Vicente, doutorado na Europa, uma biblioteca ambulante, hoje literalmente, com a alcunha de “Dr. Dog”.
Era exatamente dessa forma o pensamento de Vicente, olha ao mundo, com olhar filosófico, não achava muito sentido na vivência humana, e denotava que o homem constrói e destrói sua construção, constantemente, parecendo-lhe a maior babaquice.
Recordava das guerras da humanidade, posto que era bem versado em História Geral, principalmente das últimas duas guerras mundiais, e pensava: - Como pode, o homem ser tão belicoso (guerreiro) assim, quantos milhares de vidas são ceifadas nessas guerras, e cadê aquela união do Cristo, que faria o boi comer junto com o leão, na maior união...
Ao mesmo tempo em que revia a fala do próprio Cristo, que disse aos seus discípulos, que não veio à esta terra para trazer paz, e sim espada!

Mateus: 10
34 Não penseis que vim trazer paz à terra; [não vim] trazer paz, mas espada.

Com a mente estouvada por pegar ao pé da letra, os escritos bíblicos às vezes blasfemava contra tudo e todos.
Buscou em todos os lugares um alento espiritual, tendo passado maus bocados, como todos que por aqui estagiam, nesta escola de provações, salvos alguns momentos de alegria...
Dr. Vicente fora diretor de uma empresa multinacional, tendo sido pego no contrapé, fora despedido sumariamente de seu cargo de alto executivo.
Este executivo, tratava de negócios importantes da empresa, e não quis aderir às maracutaias de outros diretores, então lhe puxaram o tapete.
A hipocrisia humana é, uma cegueira que ataca a visão espiritual do profissional tornando-o um ser mentiroso e sem caráter, como a um mau político, que sempre se elege para continuar-se enganando, posto que tem sua consciência cauterizada, sem ter a menor complacência com o próximo, pois, o seu egoísmo chega à raia da embecilidade, praticando o prejuízo ao próximo, e o próprio, pois não escapará dos ajustes da mãe natureza-cósmica.
Cósmica era a palavra que mais Vicente pronunciava, ao se referir ao poder divino, era um misto de dúvidas entre Deus e o Cosmo.
Na realidade ele, por ser uma pessoa muito aculturada e inteligente, deduzia que, todos os mortais eram assim, viviam na agnosticidade, sem rumo nem direção exatos.
E, vivia citando Pedro, e duas dúvidas e falsidades ao negar Jesus por várias vezes, desfazendo em sua própria palavra, Falava da traição de Judas e da valta de fé de Tomé etc...
Um grande valor ele possuía, era um guerreiro, jamais desanimava, era um grande lutador, desses destemidos que enfrenta de frente a vida e suas vicissitudes.
Ratificando, Dr. Dog, não se rendera às propinas, como podemos vislumbrar a céus abertos, acontencendo com muitos intocáveis políticos, enquanto a cidade dorme.
Vicente, morou por longos anos em muitas cidades americanas e, seus filhos gozavam da plenitude do conforto dos milionários deste mundo.
Dra. Alice, sua esposa, advogada medíocre, que mais vivia nos cabeleireiros, e centro terápicos da região do que advogava com eficiência, encostada no machismo de Vicente que, exigia suprir a casa a qualquer esforço.
Quando o desemprego chegou à família, foi consumindo seus bens, não baixaram o padrão, pois, isto seria aviltante e humilhante, então aconteceu o já previsível, passaram a acumular dívidas.
Este é o grande mal da atualidade, o homem perdeu o senso de controlar mais o seu minguado salário, principalmente se for o salário mínimo, que é uma enorme vergonha ao nosso país continental que tem um PIB (Produto Interno Bruto) espetacular, porém, que vai parar nas mãos dos países do primeiro mundo...
Logo, foram-se embora: casa de campo, de praia, a própria residência, e o resto da história foi mais dolorosa, quando a crise atingiu aos filhos e seus estudos.
Não vamos declinar nomes escolares para não pecarmos em rídiculas propagandas, mas, afirmamos que os três filhos de Vicente e Alice, se frustraram profundamente, após uma luta aguerrida dos pais com as escolas posto que, endividados, fizeram de tudo para mantê-los nos estabelacimentos de ensinos, que mais se pareciam com um magazine do mais puro mercantilismo.
Imagine-se alguém com tamanha fidalguia, e que fora executivo importante por longos anos, acompanhado de grande mordomia: limusines, helicópteros, jatinhos, hotéis 5 estrelas etc... Tudo à sua disposição, ser execrado do seu último posto de alta envergadura.
Correu até chegar à exaustão à procura de um novo emprego, porém, devido a concorrência mais jovem, e com salário menor, o grande executivo ficou relegado a segundo plano, já que o jovem executivo está mais atualizado nos sistemas telemáticos e outras técnicas do mundo moderno, enquanto, o executivo mais velho, guarda muita experiência de seu tempo que já se foi e, que traz em si a mácula de não se atualizar, até vislumbrando uma aposentadoria eminente...

A Trama

Dr. Vicente comandava um conglomerado, produtor de peças eletrônicas e muitos outros materiais negociados internacionalmente.
Nessa época, morava com a família em Nova York, onde ficava a sede das empresas, ali no centro mundial dos negócios, como já falamos, Dr. Vicente girava mundo assinando muitos papéis, mas, aquele fantástico mundo de riquezas, também, pertencia à horda de cartéis de contrabandos e narcotrafícos.
Alice, era uma mulher desejada, era uma beldade, morena, olhos azuís, pele clara, cabelos longos e negros naturais, 1,79m de altura, corpo escultural, tinha muita classe, apesar de pouco tirocínio para o ambiente que freqüentava acompanhando o marido, além de manter um longo caso amoroso com o presidente das empresas do, Dr. Donald.

Mansão de Tibério

Na mansão de Tibério, jantares surgiam às tardes, geralmente intercalando-se com às mansões de outros diretores, sempre patrocinados pelas empresas.
Na matriz do conglomerado, ali em Nova York, reuniam-se diretores e suas falcatruas.
Por mais incrível que possa parecer, o Dr. Vicente era muito honesto na sua essência, e padecia de grande sofrimento por ter de se manter “honesto” e paradoxalmente conivente com mais uma quadrilha de colarinho branco, com suas gravatas de seda, italianas, posto que não participava, porém, fazia vistas grossas sobre negociatas de cair o queixo, sendo que, representava uma grande ameaça àquela turba... Diriam os diretos da empresa, ou se pertence a máfia, ou torna-se queima de arquivo.
Numa sexta-feira, o jantar seria na casa de Tibério, uma alta transação estava para ocorrer, e para não dar no bico, lá se fazia necessária a presença de Vicente e sua esposa, os quais se portavam na maior hipocrisia.
Numa das reuniões entre a corja, Dr. Rogério um dos diretores executivos, aventou sobre a hipocrisia de Vicente, dizendo que, se era conivente com eles por que não participava dos “lucros” das negociatas...
Logo, foi repreendido pelos demais, que lhe disseram:
- Rogério, fale menos, até porque se você contunuar falando, e isso cheguar aos ouvidos dessa múmia, poderá despertá-la para sua respectiva hipocrisia, e não será nada bom aos nossos interesses, portanto, é de bom alvitre que ignoremos a sua existência, é o melhor que temos a fazer.
Logo mais, Vicente seria o vice-presidente das empresas, reportando-se apenas ao presidente, Donald.
Portanto, comandaria um império...
Tibério III, assim era conhecido, já que era o terceiro homem poderoso da companhia.
Tibério, um gatuno de primeira ordem, ladrão de mão-cheia, ele e os demais desviavam materiais valiosos do grupo à outras concorrentes, recebendo e dividindo a grana com os demais diretores abaixo de Vicente, nas altas transações.
Quem nada sabia dos fatos era evidentemente o presidente o qual amancebava-se com a esposa de seu assessor direto, era realmente um “bon vivant”.

O encontro entre Vicente e Tibério.

Nova noite álgida (gelada) de Nova York, encontram-se os dois poderosos da companhia, o local era de primeira grandeza, fino restaurante, onde podia-se conversar, enquanto a cidade dormia.
Inicia-se a conversa por Tibério:
- Vicente, necessito do seu aval para um carregamento de componentes eletrônicos, uma macro compra para nossa linha de produção a qual virá de Copenhague à Detroit à nossa fábrica 5.
- Por que você mesmo não autoriza essa compra Tibério?
Querendo se isentar daquela possível encrenca...
- O valor da compra é tanto, e excede aos meus limites, e atinge aos seus, portanto, somente podemos comprar com o seu aval.
- Mande-me o relatório com todos os itens a serem comprados, por favor, e verei o que posso fazer, apesar de achar este valor exacerbado...
Vicente conhecia bem o colega, o qual já o havia insinuado com ameaças de morte e seqüestros dos seus filhos, teria de dar um jeito, porém, sem participar dos lucros da gangue, fato que fazia da sua posição mais complicada ainda.
Quantas vezes se viu emburrecido por concordar com o roubo e não ter participação, porém, à Pôncio Pilatos, lavava suas mãos, ao invés de ir delatar seu diretores, posto que esta seria a sua obrigação como vice-diretor das empresas...
Alice, achava que ao se entregar a Donald, assegurava o posto do marido, que nem imaginava a traição da esposa, a qual era bem velada pelos amantes.
Donald, estava sempre na sua sala, na maioria das vezes distraído com algum jogo de computador, não fazendo tipo de presidente, dono de enorme fortuna herdada de seus pais.
Vicente encontrava-se desta vez com uma enorme batata quente em suas mãos, sonegando saber muito sobre o golpe que Tibério estava para aplicar desta vez, porém, se lhe parecia ser algo faraônico, portanto, perigoso demais, ficando naquela dúvida de autorizar ou não, faltava apenas a sua palavra e assinatura.
Já cansado de levar a turba nas costas, toma uma desastrosa decisão, pegar também a assinatura de Donald, e assim o fez:
- Olá Donald, tudo bem?
- Oi Vicente, tudo certo!
Donald, confiava cegamente no seu assessor Vicente, porém, achou estranho que tivesse também de assinar, já que lhe delegara toda aquela prerrogativa, porém, naquela compra envolvia muitos milhões de dólares, e pagou pra ver.
Tibério congratulou-se com a bela atitude de Vicente, achando que se livrariam da grande responsabilidade já que, o próprio presidente aquiecia com sua própria assinatura.
Desta vez, Vicente, se achando isento, procurou auditar aquela negociata.
Na fritada dos ovos, descobriu que se tratava de negociação fria, onde entrava no jogo apenas as notas fiscais superfaturadas, e depois faziam as divisões milionárias entre os bandidos executivos da companhia.
Antes que Donald descobrisse, Vicente tomou a peito e, foi até ele e, conjeturou sobre a sua desconfiança, e como Donald havia assinado também, aliviou um pouco a barra de Vicente, enquanto, aos demais pesou o ônus do crime e foram parar na cadeia americana.
Donald, já cansado da amásia Alice, que ao nutrir muito ciúme sobre o presidente, apoquentando-lhe a vida, até com chantagens, então Donald teve de tomar uma atitude libertadora, chamando Vicente em sua sala para uma profunda conversa.
- Vicente, há vários anos, tenho você na mais alta estima, porém, tomei uma decisão e, vou ser bem direto:
- Acho você muito honesto, mas, conhecedor de todos os negócios escusos que a diretoria tem realizado nestes últimos anos, tendo-as omitido, sonegado informações valiosas, aliás, deveria fazer parte de seu currículo auditar tais negociatas que já causaram enormes prejuízos ao nosso patrimônio, pois, tenho meus espiões que a mim me fazem relatórios etc...
- Você sabe de tudo, mas, creio que tenha recebido ameaças e portanto, em nome da sua família, vou preservá-lo de maiores dissabores, porém, não posso deixar de despedi-lo, com um pedido enfático: vá para bem longe daqui.
Claro que, Donald querendo livrar-se de Alice tomou tal atitude.
Donald conversa com Alice:
- Alice, o que você prefere?
- Ir morar em outro país, ou ver Vicente preso como os demais da horda que tanto me roubou?
Alice pensou nos filhos e na indenização que o marido receberia e, teve de aceitar a proposta imposta no mais pleno silêncio do seu destino.
- Silêncio – a cidade dorme.
Voltaram às suas origens, à cidade de São Paulo, a “Paulicéia Desvairada” do nosso glorioso Mário de Andrade, grande escritor.
Agora em São Paulo, morando em bairro nobre, seus filhos estudando nas melhores escolas, freqüentando a alta sociedade, para não perderem o costume.
Aos 50 anos de idade, Vicente está fora da realidade brasileira e, o mundo escapou aos seus pés, novas gerações, novas tecnologias, nanotecnologia, etc...
Vicente ainda alimenta a esperança de voltar a ocupar um cargo até maior do que aquele que ocupara anteriormente lá em Nova York.
Ledo engano, o seu mundo desabara realmente, e o doutor Vicente começa a sofrer os ultrajes da vida.
Descer do pedestal, não lhe era tão simples assim...
Para Vicente, manter sua família no mesmo nível, era uma questão de honra.
Ainda estava ligado a uma parentela, a qual sempre prestigiava-no pelo seu fabuloso cargo naquela multinacional, e era um parente que trazia grande orgulho à família, pois, quando vinha visitá-la trazia lhe muitos presentes, e causando muito impacto aos parentes e amigos brasileiros.
Sua situação agora era vergonhosa, posto que, previa um futuro incerto, e desastroso, e – o que será que pensariam do famoso Dr. Vicente?
Bem, Vicente acabou ficando na mais onusta miséria, perdendo tudo para manter o seu Status.
Certo dia, estando sentado num banco de uma praça pública a pensar na vida com muitos maus pensamentos borbulhando-lhe a mente, quando repentinamente senta apar dele um velho, usando uma bengala, desejoso de desabafar com alguém, dirigi-se ao ancião:
- Gostei muito da sua bengala, meu senhor...
Fala Vivente, e responde-lhe o velho:
- Martinho às suas ordens!
- Esta bengala tem uma longa história, meu amigo...
- Vicente, seu criado...
- Pois é Vicente, como lhe dizia, vou fazer 85 anos e tenho sob a minha guarda esta bengala desde os meus 10 anos de idade, herdade do meu avô Cornélio, pai de meu pai, que de mim a emprestou até seus últimos dias de vida, bem não desejo, mas, se o meu único filho dela necessitar, poderá ficar com ela, quiçá, sirva ao meu neto.
O velho falava num contínuo impressionante e continuou:
- Davi, meu filho é vereador aqui nesta cidade maluca, verdadeira fábrica de fazer loucos.
- Davi é, muito querido de seus eleitores, moro com ele que me dá de tudo, acho até que não mereço tanta deferência.
Quando o velho fala em deferência, atiça a curiosidade de Vicente em saber mais sobre Martinho, seu novo interlocutor, e adianta:
- Com mil perdões senhor Martinho, o senhor é aposentado?
- Sim, há muitos anos, não posso reclamar da vida, trabalhei numa firma a minha vida toda, multinacional de renonome, tinha autonomia dentro da organização, lá minha palavra era lei, fui um executivo como se diz nos dias de hoje.
A curiosidade de Vicente aflorou mais ainda.
- Desculpe-me a indiscrição, em que empresa o senhor trabalhou todos esses anos?
Responde orgulhosamente o velho:
- Empresa americana chamada: XYZ, ao pronunciar o nome da empresa, Vicente sentiu um choque, pois, era a que o deteve por longos anos também em seu importante cargo.
Quis ouvir mais ainda o velho falante...
- Sabe Vicente, fui um dos fundadores dessa empresa e nela trabalhei 50 anos, mas, a minha verdadeira dor foi quando fui despedido, a ordem viera dos Estados Unidos, ao menos assim me disseram, partiu da presidência, talvez uma desculpa esfarrapada, porém, a realidade é, me despediram e ponto.
Agora era a vez de Vicente desabafar com o velho:
- Seu Martinho, o mundo é mesmo pequeno, é muita coincidência, pois essa foi a minha segunda casa, a ela dei o meu sangue, a minha vida, lá permaneci por muitos anos também, como vice-diretor.
Martinho, encantado com o que ouvia de Vicente e, vice-versa, formula um convite que viera em muito boa hora, para chegar em sua casa, que ficava ali mesmo defronte àquela praça,
A bem da verdade, Martinho morava apar da casa de seu filho, o vereador, bela e confortável residência para quem morava a sós, na realidade ele tinha uma bela e jovem enfermeira de seus 35 anos, que cuidava de sua saúde um pouco depauperada...
Vicente agora, mais do que nunca concita o velho a falar de sua vida e, o ancião rasga o verbo:
- Caro Vicente, já que pertencemos à mesma cepa de profissionais, quero lhe falar sobre um italiano, Giovani, também fundador da companhia, tornou-se eterno e terno amigo, convivemos os dois primeiros anos na fundação, portanto, fomos os pioneiros dessa poderosa máquina de dar empregos a muitos pais de família.
O velho Giovani ainda está na empresa, a direção o tem como um verdadeiro talismã, onde ocupa um cargo vitalício, exigência de Donald pai...
- Giovani se enamorou de Doralice, também funcionária da empresa, casaram-se, dali até hoje ainda me comunico com meu amigo, embora sua esposa já tenha falecido.
Continua Martinho:
- Naqueles dias eu fazia um curso de primeiros socorros, onde se incluía um de realização de partos, exigência da companhia, já que seria destacado com a minha família lá pelas bandas do Xingu, ia para lá para fazer algumas análises laboratoriaias em algumas plantas, em favor do setor farmacêutico da empresa, que no fim acabou gourando, porém, aquele curso foi providencial para firmar nossas amizades.
Morávamos num conjunto de casas cedido pela empresa e éramos vizinhos.
Doralice estava para dar a luz, e Giovani se ausentara por motivos os quais desconheci, ou não me lembro direito, e Doralice sentia já as contrações, resumindo, tive de socorrê-la, então fiz o meu primeiro e último parto, do qual procedeu um belo e saudável menino.
Quando o médico chegou, acompanhado de Giovani, que como bom italiano chorava copisamente e a mim me abraçava, enquanto, o médico elogiava o meu trabalho, o que me deixa até hoje muito orgulhoso, e o garoto foi por mim batizado pelo nome: Tibério.
Quando o velho pronunciou o nome Tibério, Vicente sentiu um calafrio deslisar espinhela abaixo.
Exclama Vicente:
- Tibério, seu Martinho?
- Sim! Tibério se criou também nas empresas, soube que hoje está amargando uma prisão danada nos Estados Unidos, posto que, dizem, roubou as empresas.
- Donald, aprendeu com seu velho pai, ser implacável!
Vicente deu um suspiro profundo, pediu licença a Martinho para abraçá-lo e quando o fazia, adentra à sala o edil Gilberto, que vai logo se desculpando com o pai:
- Desculpem-me, não sabia que estava com visita, papai...
O antigo relógio de parede indicava com cinco badaladas 5h da tarde e, o velho todo empolgado com a chegada do filho, exige que eles jantem para se conhecerem amiúde. Vicente meio sem jeito aceita o convite e, o assunto recomeça, enquanto, Valéria a enfermeira, que na realidade acumula cargo preparando a janta para Vicente, aquilo foi a glória, posto que o coitado há dois dias não comia nada. Realmente foi um banquete.
Naquela altura do campeonato, Alice, abandonara a família, sem deixar vestígio, logo após tripudiar o narido, revelando-se ex-amante de Donald por longos anos.
Aquela confição foi tão marcante a Vicente que o derrubou moralmente, além, das cobranças de seus filhos, lançando sempre na sua cara a sua inépcia de pai de família ocioso etc...
A conversa durou até meia-noite aproximadamente, quando Vicente desabafou, contando aos dois a sua vida e sua desgraça...
Despediram-se, cada qual seguindo seu destino.
Vicente voltou ao seu cômodo e banheiro, onde encontrou-se com seus filhos bêbados e, carinhosamente os acomodou, e tentou conciliar o sono.
Com certo receio havia dado o seu endereço a Martinho e Gilberto ao despedir-se da bela vivenda...
Em silêncio dorme a cidade, aparentemente, pois, os noctívagos trabalhadores estão lutando até o sol nascer, por isto existe o ”Slogan”: “São Paulo não pode parar”.
Após dois dias, aparece, logo de manhã o velho Martinho a bater na porta do casebre de Vicente e lhe entrega um convite para seu aniversário de 85 natais, e era um convite especial que principiava assim:
Ao Dr. Dog, com todo o respeito.
Enfrente ao metrô, numa de suas principais saídas uma das mais movimentadas, o vereador Gilberto, conseguiu um alvará com um carrinho de cachorro quente e tudo o que tinha de direito, para o Dr. Vicente recomeçar sua vida...
Muitos agradecimentos etc...
Vicente enfrentou aquela barra, e começou a prosperar, dividia seus horários com os filhos que, agora puderam voltar aos estudos.
O Velho Martinho e, Valéria sua enfermeira passa a se dedicar a Vicente que junta-se à ela com esfusiante amor.
Hoje, uma rede de Dr. Dog espalha-se pelas capitais do país, fazendo do Dr. Vicente um homem bastante próspero, um executivo do “Hot Dog”.
Como a fênix, Vicente ressuscitou das cinzas, deixando-nos um belo exemplo de vida e sucesso.

Viva o Dr. Dog.

A nossa vida

A nossa vida, é uma ilusão
Parnasiana do cotidiano...
Seja você, catalão,
Católico, ou muçulmano,
Nada adianta, meu irmão,
Ser italiano e gostar de confusão,
Seus pés é terra, é pés no chão...
Porém, é meu mano,
Morador do meu coração...
Vida distorcida,
No futebol é a torcida,
Nem que seja de salão...
No trabalho é aguerrida,
Na guerra é santa,
Santa é na guerra,
De palestino e judeu,
Vida de Alá,
Vida de Deus...
De tanto falar,
Passei até por ateu.

O nosso doutor Dog, mais do que se podia imaginar, teve ação, esta é alavanca do sucesso, pouco deve nos importar a maneira honesta que se ganhe o pão nosso de cada dia com o suor do rosto, conquanto, seja através de trabalho honesto.
A comunicação, é algo preponderante ao nosso dia-a-dia de trabalho, até podemos entender que, para se efetuar um assalto a banco, deva-se dispender de muita energia, e suor do rosto, e deve dar um enorme trabalho, e até suodorese, pelo sistema nervoso afetado, então o fato de se ganhar com o suor, é força de expressão...

O reencontro

Certo dia, encontraram-se casualmente num dos carrinhos de “hot dog” do doutor Dog, o escandaloso ceciliano Salvatore, e que tinha algo em comum com o vendedor de cachorros quentes, Vicente.
O mundo é realmente pequeno, posto que, numa de suas viagens à Itália a serviço de sua empresa, Vicente conheceu Salvatore, o qual trabalhava naquela filial, em Roma, estamos obviamente falando do seu antigo emprego.
Salvatore, foi seu sicerone, que fez tantas mesuras a Vicente, e que o deixou encantado, havia se passado bem uns quinze anos de quando se conheceram.
Aquele senhor espalhafatoso, espetaculoso falava mais do que a própria boca, e começou a manipular a atenção dos clientes de Vicente, que o analisava profundamente, pois, tinha a nítida impressão de conhecê-lo de algum lugar deste mundo.
Num dado momento, equanto Salvatore parlamentava com aquela gente, Vivente sentiu algo estranho lhe acontecer, foi ficando com visão nublada, e via somente através de “flachs”, mas, quando via, era com muita intensidade, foi num desses dados momentos que, vislumbrou a Roma e ambos na empresa, então pôde entender de onde conhecia Salvatore, que nem serquer tinha dito seu nome, a ninguém do local, no comércio dos sanduíches, que era uma barraca, por assim dizer, porém, muito requintada, era coisa fina, como sua rede toda, que era composta de 200 barracas espalhadas pelo território nacional.
Vicente, mexeu com Salvatore, chamando-o pelo nome, e este extasiado, aliás, como a um bom italiano:
- Ma quê, rapá... como sabe mio nome eco?
Vicente, muito gozador, foi chamando o italiano de rei, posto que, ele é que chegou no local, portanto, ele estava escondendo que sabia tratar-se de sua pessoa ali no balcão daquele estabelecimento, e se fazia de rogado, fazendo tipo...
Finalmente entraram num acordo, e até ficaram alegres e felizes, por aquele casual encontro.
Conversa vai, conversa vem, descobriram que moravam no mesmo prédio de apartamentos, então eram vizinhos.
Naquela mesma noite se encontraram na casa de Salvatore, as famílias se encontraram...
O italiano era um grande cozinheiro, e muito espontâneo ao gabar-se de seus dotes de Mestre Cuca.
Salvatore, há uma década havia deixado a empresa, mais ou menos na mesma época, pela qual Vicente foi também dispensado aqui no Brasil...
O apartamento de Salvatore era um luxo, só, ele o havia transformado em dúplex, obviamente eram dois, quando os comprou...
Notou Vicente que, os talheres eram folheados a ouro, bem como as torneiras do apartamento, e quando deparou com o carro do italiano, ficou realmente abismado com alguém que se reportava a ele lá nas empresas, claro que seus contatos eram extremamente exporádicos e via telefônica...
O velho tinha motorista particular, e 4 empregadas domésticas, e o seu dúplex de cobertura media 800 m2, que fez com que Vicente ficasse muito curioso com aquele ser simples e falante...
Aqui começa uma história de amor, o italiano tinha uma bela filha, ragaça, como se referia à ela, e Vicente não deixava por menos, tinha também um belo ragaço, um filho, engenheiro mecânico, belo porte físico, e logo acabaram descobrindo que já há muito tempo eles se encontravam...
Caminhos diferentes, fazem as pessoas se encontrarem na estrada de vida.
- Bem... mas, o que estaria fazendo o italiano para ostentar tamanha riqueza?
Essa era a pergunta que martelava a cabeça de Vicente.
- Estaria ele, envolvido com a máfia italiana?
- Seria traficante?
Agora, todos os santos dias, Salvatores passava na barraca de Vicente e comprava um quantidade colossal de seus cachorros quentes, quase a quantidade que produzia para aquela multidão de clientes.
O fato de Salvatore, comprar tanto, colocava Vicente mais curioso ainda.
Até um dado momento, perguntou:
- Slvatore, não tenho nada com sua vida, mas, me responda uma coisa, para quem você compra tanto cachorros quentes assim?
E, o espirituoso italianíssimo solta uma das suas, pela qual, Vicente já esperava.
Falou baixinho, como se fora um grande segredo que estava revelando a Vicente:
- Dotoire, Vichent... esto aqui, é pros mios cachorinhos, eco, eles são canibais, e gostam de comer seus cachoros, só que, quentes viu, seo curioso...
Retorquiu-lhe Vicente:
- Mas, onde estão seus cachorros, Salvatore?
Ah... você está querenco saber demais, meu amigo.
Responde-lhe Salvatore.
Aquilo que estava acontecendo era demais para a curiosidade de Vicente.
Esse italiano deve estar envolvido com alguma treta, pensava constantemente Vicente, que de tanto comentar o fato em sua casa, seus filhos e esposa, proibiram-no de falar sobre o italiano, posto que até aquele momento não se sabia do namoro de seus filhos.
Vicente ficava imaginando a matilha que haveria de possuir o italiano para tratá-los com tantos sanduíches daquela maneira, e não ficava so nisto não, certo dia percebeu que o italiano entro na doceria mais chique do local, que por sinal ficava defronte de sua bela barraca, e de lá ao sair deixou cair um pacote, com doces e pães finíssimos...
Um belo dia, Vicente resolveu seriamente descobrir o que estava havendo, e inventou uma viagem, porém, sua intenção era a de seguir os passos do italiano, para ver o que significava aquilo tudo...
Disse ao própria Salvatore que tal dia ía viajar para fora do país, mas, que era uma viagem relâmpago, e que estava atrás de alguma idéia para melhorar ainda mais o seu comércio e trá-lá-lá...
No dia marcado camuflou-se como um gari, e saiu ao encalço do italiano, que não quebrou sua rotina, passou pela barraca, fez suas compras, que geralmente era pedida por telefone, e quando passasse era somente carregar, cuja carga os funcionários de Vicente se encarregavam de efetuarem.
A limusine, ía vagarosamente até por causa do trânsito, enquanto Vicente pedalava sua bicicleta que usava nas corridas de treinamentos físicos.
Não demorou muito, para que o carrão parasse logo na primeira favela, cheia de barracos, onde em uma viela o auto ficava estacionado e, uns jovem mal-encarados vigiavam-no, enquanto alguns se encarregavam de descarregar o carro do magnata Salvatore.
Aquele vai-e-vem deixou Vicente muito cabreiro, e não deu outra, já prejulgou o italiano, deveria estar passando drogas aos favelados, agora como ele estava fazendo isto , ele nem imaginava.
- Seria através de seus pães?
Vicente estava convicto de que o italiano era mafioso, até porque, a Itália cultiva essa casta, bem na realidade essa horda está espalhada pelo mundo todo, podemos ver a máfia chinesa, a japonesa e tantas outras, assim ía pensando Vicente.
Como “o bom cabrito não berra” – Vicente pretendeu não aventar com ninguém sobre o que viu, mas, sua curiosidade estava-lhe matando de verdade.
Salvatore, estava aposentado, como um grande engenheiro que fora a vida toda, e tinha um modesto salário.
Então veio a pergunta fatídica de Vicente:
- Salvatore, e você, está fazendo o que na vida?
O italiano lhe responde expansivamente:
- Estou aposentado, já há 5 anos, Vicente... e para lhe falar a verdade, já não agüento mais esta vida de ficar sem fazer nada... – Você não precisa de um auxiliar aí? - estou pronto pra qualquer parada, meu amigo...
Retruca Vicente:
- Você só pode estar brincando com a minha cara, Salvatore, tenho visto a sua fausta vida de magnata, meu caro...
- Estou falando sério, Vicente, aliás precisamos conversar sobre este assunto, de repente... quem sabe...
Vicente, mais encafifado ainda com aquela conversa, achou realmente que, o italiano estava querendo arranjar um álibi para sua situação.
Só podia ser isso, aquele calhorda safado...
Mediante tal conversa com o italiano, voltou por várias vezes a seguí-lo até aquela favela, e o ritual de Salvatore se repetia da mesma maneira.
Até que, certo dia, Salvatore intima Vicente para jantar com ele, e que eles tinham muito a conversar.
Vicente, meio ressabiado com o convite, mas, tomou coragem e foi, porém, desta vez muito desconfiado, com medo de algum embuste por parte do rei da máfia, segundo seu pensamento.
O jantar era mesmo de rei, mesa farta com iguarias sem igual.
Após o jantar foram até a mesa de “Snooker” enquanto, vão jogando, Salvatore vai ao assunto:
- Caro amigo, Vicente, quando me referi a trabalhar com você, estava falando sério, realmente necessito de trabalhar de verdade.
Com aquela conversa, retruca maldosamente Vicente:
- Mas, o seu trabalho, não é sério?
- Que trabalho, já lhe disse que vivo de uma minguada aposentadoria...
- Salvatore, brincadeira tem hora e limite, meu amigo.
- Nunca estive falando tão sério, Vicente.
- Se você ganha tão pouco assim, como pode levar uma vida tão expressiva como essa?
- Bem, não confunda alhos com bugalhos, Vicente.
- Pois, o fato de ter uma vida nababesca como esta, não quer dizer que deva ser precisamente mantida pela minha aposentadoria.
Agora, Vicente pisa na bola, ao exclamar:
- Ah... agora estou percebendo o seu lucro, que advém dos meus lanches, estou sabendo, mas, não vou entrar na sua, não, sou seu amigo, mas nessa eu não entro não...
Agora, quem fica pensativo é Salvatore, e fala:
- Quem não está entendendo nada agora, sou eu...
Vicente que, sempre agiu com desembaraço, vai direto ao assunto.
- Salvatore, você sabe que eu não tenho papa na língua, e por isto serei bem direto com você: - Para onde você leva os meus pães?
Aí o italiano, começa a se irritar com Vicente, e vai logo desabafando:
- Vicente, isto é um problema meu, compro seus pães e pago-os, e por que teria de lhe dar satisfações?
Vicente não gostando muito da resposta, revida:
- Salvatore, se você me convida para fazer alguma proposta, devo-me inteirar do assunto e quero saber em canoa estou entrando, rapaz.
- Na verdade, tenho uma grana preta, e quero aplicá-la, meu caro Vicente, e vejo em você a pessoa certa, mas, estou me apercebendo de que você está se esquivando, talvez esteja tão estruturado que, nem lhe interesse mais dinheiro, eu até sei o que é isso.
- Dinheiro nunca é demais, porém, vamos pôr as cartas na mesa de vez por todas.
Salvatore, então fala a Vicente sobre uma somatória meio estapafúrdia, enquanto, Vicente se autoconjectura:
- Safardana, esse dinheiro é muito alto, e esse cara está metido até o pescoço com essa laia de traficantes, debalde não é, que o danado visita aquela rapaziada da favela...
Porém, jamais me envolverei com essa corja, estou muito bem, e não vou arrumar confusão para minha vida agora, que estabelizei-me nos negócios.
Agora o bicho pega, com a pergunta feita displicentemente por Vicente:
- Salvatore, não me leve a mal, mas, onde você arruma tanta grana assim?
O italiano, mais uma vez se irrita:
- Vicente, você por acaso está insinuando que este meu dinheiro é escuso?
- Não Salvatore, mas, se não ficar a par de tudo, não poderei decidir sobre... – sobre o que mesmo, Salvatore?
- Quero ser seu sócio, estou com muito dinheiro, e simplesmente quero aplicá-lo em mãos nas quais eu confio.
- Obrigado pela sua confiança, Salvatore, mas, se você não me falar da origem dessa grana, fico amarrado, sem ação, posto que, poderia me envolver com algo ilícito, com minhas escusas, amigo.
Muito irritado, porém, até compreendendo o amigo, responde Salvatore:
- Vá bene ah... – vou-te dizer direitinho, eco...
Então o italialiano continua com sua explicativa sobre sua riqueza:
- Jogo, meu caro amigo, jogo legalizado pelo estado federal, meu velho, é daí que vem minha grana.
Logicamente que, aquela explicação não convenceu Vicente, que logo em seguida torna-se até grosseiro, dizendo:
- Quero ver você provar, Salvatore.
- Em primeiro lugar, não tenho que provar nada a ninguém, em segundo, este dinheiro é problema meu, em terceiro, fui eu, Salvatore que o ganhei, e sozinho na mega sena acumulada, de modo que, estou em paz com a minha consciência.
Vicente continuava desconfiadíssimo de Salvatore, e num jantar corriqueiro, Vicente externa seus sentimentos sobre Salvatore.
Rapidamente seu filho mais velho e enamorado da filha do italiano, defende-o com unhas e dentes, tentando desfazer a imagem que o pai tinha do seu futuro sogro, o que até então ninguém sabia nada a respeito daquela profunda paixão.
Porém, o voluptuoso jovem abre o jogo, dizendo que iria noivar com a garota, posto que estava perdidamente apaixonado pela vela jovem.
Aquela fala do filho fui uma punhalada no coração de Vicente, que começou a agredir verbalmente o filho.
- Ah... seu sabia, só poderia ser mesmo as drogas...
Retruca com veemência o filho:
- Que drogas, pai, você deve estar maluco... você está fazendo uma acusação caluniosa e leviana...
Volta o pai a confirmar, e a relatar os fatos até onde tinha conhecimento sobre o italiano:
- Vocês não sabem, o que eu sei a respeito desse traficante mafioso, desse carcamano, que deveria ficar lá na Itália com sua máfia italiana!
O filho fica pasmo com tal insinuação e corrige o pai:
- Oh... pai, vai com calma, você deve ter bebido hoje, não é possível ouvir o que estou ouvindo, logo da boca do meu ídolo maior, meu próprio pai. – Por favor explique-se melhor...
- Sim, vou detalhar tim-por-tim-tim:
- Estou de campana no carcamano do Salvatore, nos últimos dias tenho seguido seus passos, vão ouvindo só, vocês sabem, que ele é o meu melhor freguês, nínguém compra tanto cachorro quente igual a ele.
Bem... tendo recebido uma proposta de me associar a ele, ou ele a mim, achei-a meio hilária, pensando que se tratava de uma brincadeira, mas, o negócio era mais sério do que podia imaginar.
Resumindo, ele insinuou colocar-me nos negócios das drogas.
Retorquiu o filho:
- Que drogas, pai, você cismou com essa merda, ou vão abrir uma drogaria, e não está sabendo se expressar?
Agora, é a vez do pai:
- Meu filho, você que já pertence àquele clã, deve estar metido até o pescoço, com essa máfia!
A coisa começa a esquentar, posto que realmente Vicente estava fazendo a maior confusão de sua vida, sem atentar para velhos provérbios:
“Nem tudo que balança cai”
“Nem tudo que reluz, é ouro”
“As aparências enganam”
“Com a mesma medida que medirdes, medir-vos-hão a vós”
A preocupação demasiada por tornar-se num erro obcecante, pois, Vicente não tinha nada de concreto que pudesse desabonar Salvatore...
Continua o velho:
- Meu filho, você é cego, não dá pra ver que tanta pompa é improcedente, de onde vem tanta grana?
- Ah... então é isso, doutor Vicente, Salvatore ganhou por 5 vezes nos jogos legalizados pela loteria federal...
- Balela, garoto, balela, tá facinho mesmo...
- É verdade papai, eu sou testeminha, nas última duas vezes, eu o acompanhei a seu pedido na transação legar dos seus últimos prêmios.
- Então, é verdade essa história dos jogos legais?
- Sim, é claro que é!
O velho, deu um tempo enquanto bebericava o seu vinho do Porto, e saboreava o seu estrogonofe, mas logo, inquiriu o jovem:
- E, o que ele faz quase todos os dias freqüentando aquela favela?
- Acompanhei Salvatore, várias vezes até a favela, papai, e você está pecando meu velho, pois, saiba que, ele distribui alimentos àquelas famílias, atitudes que a maioria brasileira, não toma, ou não pratica.
E, vou mais longe, você não sabe que bom coração tem Salvatore, papai...
Ah... tem uma coisa que vocês não sabem, Salvatore me convidou para passar um mês com ele na Itália, quer que eu o acompanhe para desembaraçar alguns documentos de sua herança, que não é nada pequena, então mediante todos os fatos ocorridos. – Vocês acham mesmo que Salvatore é traficante?
Diante das explicações do filho, Vicente ficou matutando, e não pôde dizer mais nada, e até arrependido, pensava em se desculpar com Salvatore.
No dia seguinte, como de costume, lá apareceu Salvatore para apanhar seu costumeiros sanduíches, e naquela alegria “botânica” (península da bota – Itália) chegou brincando e provacando Vicente.
- Diga aí, mio amiche, vou ser sócio desta droga ou não?
Vicente, mais comedido, e humilde, postava-se diante do italiano, e apenas acenou com a cabeça positivando a conversa de Salvatore.
Salvatore, até achou estranho aquela passividade de Vicente, e vai dizendo:
- O que foi, viu algum fantasma, viu?
Vicente, pensou com seus botões, em responder que sim, e que estava diante de um, mas, se conteve, posto que o brincalhão italiano, agora merecia certo respeito.
Ali no balcão de sua barraca mesmo, Vicente acaba de desculpando com Salvatore, que não entedeu bem de que se tratava tanta retratação, Vicente lhe fala:
- Salvatore, às vezes a gente exagera nas palavras, portanto, quero me desculpar com você...
Quando é interrompido pelo italiano:
- Não precisa se desculpar, negócios são negócios, amizade à parte.
Entendendo, que somente seria sobre a sua proposta de sociedade, e foi rebatido de imediato por Vicente:
- Salvatore, precisamos voltar ao assunto daquela proposta, acho que vou-me interessar sim!
Então, voltou Salvatore a dizer:
- Que figurinha difícil é você... vamos combinar outro encontro com mais tempo, e talvez nossos filhos se interessem em participar também...
Quando, falou-se em filho, entrou areia na cabeça de Vicente, que não adotava muito a participação de filhos em seus negócios, achando que, ficaria muito íntimo os fatos do dia-a-dia, porém, não comentou nada naquele momento, esperando a oportunidade para fazê-lo.

A reunião definitiva

Reuniram-se agora na casa de Vicente especificamente para tratar daquela sociedade proposta por Salvatore.
Estavam na reunião: Wilson, o filho de Vicente e Alice, e também o casal, mais Salvatore que, era viúvo e Marina sua bela filha,.
Wilson, muito solerte (esperto), pede licença para falar, e incontinemente, pede a mão de Marina para ser sua noiva.
Salvatore deu grito, insinuando profundo regozijo, e dizendo que da parte dele estava tudo bem, bastava apenas ela aceitar.
Wilson, era um bom advogado que estava esperando sua nomeação de Promotor de Justiça, enquanto, Marina e médica pediatra.
Terminado o jantar, Wilson pediu para se retirar, posto que o assunto dos pais, não lhe dizia respeito e o mesmo fizeram os demais, deixando os dois amigos a sós.
Começa a ladaínha, por Salvatore, que como italiano era solícito.
- Vá bene, Vichenzo... diga... ah...
- Salvatore, pensei na sua proposta, e achei que você, é um bom parceiro para uma sociedade, e por isto me desculpo novamente, por ter sido rude com você naquele dia...
Finalizando, concretizaram aquela sociedade, e logo com a grana e a capacidade administrativa de Salvatore, o negócio cresceu e muito, e tornaram-se uma rede internacional, com um desses nomes ingleses que têm por aí...

Definitivamente os filhos seguiram seus caminhos, conquanto, os dois amigos, Vicente e Salvatore foram prósperos, deixando belos exemplos de vida, como verdadeiros guerreiros da sobrevivência humana, como existem muitos neste planeta de aprendizados.

Nos dias atuais, as empresas fundadas pelos dois amigos, trabalham em vários segmentos do mercado, sendo gerenciadas pelos netos que são até armadores, fabricantes de navios.

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